quinta-feira, 1 de julho de 2010

Tirada decorativa


O tema mais batido do mundo, em termos de escrita, talvez seja o "não escrever". Escrever sobre a crise do "não escrever", do "não conseguir escrever". Deve haver vários motivos que levam alguém a não escrever, mas listo os quatro primeiros que me vêm à cabeça: falta de vontade, falta de talento, falta de técnica, falta de tempo. O Bateau Mouche está no ar há um ano. Houve momentos em que meu distanciamento em relação a ele foi proposital, não escrevo por falta de vontade. (Então por que criou o blog?, eu mesma me perguntei.) Passada a falta de vontade - muitas vezes motivada, é necessário dizer, pela falta de talento e de técnica - resolvi aderir ao Bateau, outra forma de aderir a mim mesma. E me deparo com a quarta e mais crônica das faltas atuais, a de tempo. E me pergunto - o tempo nunca falta nas perguntas - como eu antes dos 30 anos posso experimentar o estado falta de tempo? De fato é cotidiano, a mais aterrorizante das palavras: chegar em casa do trabalho, depois das nove da noite; comer pouco; banho; vestir pijama; computador. Nisso, quede fôlego? O dia começou cedo, com a ginástica-faca-apontada-pro-pescoço (uma vez por semana). Depois vem o imenso dia de trabalho (salve salve Cesare Pavese). E não é justo esquecer dos trajetos: casa-rua-ônibus-trabalho-rua-ônibus-casa. Com tudo hoje já é dia primeiro de julho, faço questão de escrever por extenso, como se eu tivesse todo o tempo do mundo. As mulheres do século XIX tinham mais tempo. E o meu quarto se torna um maravilhoso parque de diversões, com morros de livros que ainda não li (desisti da música). E o computador é a terceira dimensão, com o mundo por trás da janela, e a possibilidade infinita de escrever escrever escrever. Mas, putz, são todas possibilidades ficcionais. Talvez depois desse texto eu deva pagar uma sessão pro suposto leitor; talvez eu mesma deva me pagar uma sessão. Quite. O blog é pra quem gosta de aparecer, e minha personalidade molha aí sua torrada. Texto brega, texto negativo, texto autoanálise, texto não texto. Texto.