sexta-feira, 4 de junho de 2021

Altitude 1.079

Serra de Friburgo



Para o João e a Fan, com saudade.

Bem que podia rolar uma pedra, assim, como quem não quer nada, mas tudo querendo. Que hábito horrível esse de escrever poemas no celular. Os cabelos ocultam a verdade e no escuro eu tropeço nas cadeiras largadas no meio da sala. Teus pelos macios do peito devem ser macios como os pelos dos cães aqui de casa.

Essa noite sonhei que ganhava uma borracha. E eu dizia “ah, uma borracha nova, estava precisando”. Borrachas apagam mensagens escritas a lápis, mas não aquelas enviadas do computador. Essas não podem ser apagadas. Depois que papai morreu, por alguns meses ainda entrei no seu e-mail para ver se ele mesmo não mandaria alguma mensagem.

Hoje consegui identificar a voz do Zizek em francês e me senti inteligente, mesmo que eu escreva poemas no celular. Me sinto especialmente afetada pela energia da Lua minguante, e enquanto choro no túnel Rebouças os carros parecem brilhante. Não tenho mais vergonha dos meus versos. Procuro não ter mais vergonha dos meus versos.