quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Avenida Europa

Ruído
colagem de Rafael Bandeira



Quando menos esperava, foi atropelada e morreu.
Sempre teve dificuldade de atravessar as ruas de São Paulo.
Por um segundo, distraída, olhou para um lado só. Mas o ônibus
vinha pelo outro e o motorista, coitado, não conseguiu frear.
Num segundo, nada do que viera fazer em São Paulo
seria concluído. O impacto foi estrondoso,
e aquilo se transformou num espetáculo.
Sua cabeça estava esmigalhada no vidro do ônibus
e uma orelha havia sido arrancada, repousando na avenida
a poucos metros do acidente.
Um homem de quarenta anos, mas parecendo mais velho,
a encontrou. Os dois brincos pequenos que a moça usava,
uma bolinha de ouro e uma rosa de plástico,
jaziam na orelha morta, destacada, que o homem
levou para casa, como um suvenir.